quinta-feira, 4 de novembro de 2010

''Faz algum tempo que a velha Satine nao retoma o caminho de casa. Faz um tempo que ela não da as caras no jantar a meia noite. Já tem alguns meses que desapareceu, tirou férias ou morreu.
Não escuto mais seus resmungos no canto do meu ouvido. Seus braços apoiados em meus ombros. O seu perfume forte, que me secava os bronquios. Os gritos e palavras sujas escritas e riscadas em todo balão de sua fala.
A filha da puta me deixou jogada sozinha, sob o sol quente do meio dia queimando minha pele a qual estava acostumada com a escuridão. Com as flores e a grama cossando minhas costas. Tendo de trilha sonora nao mais os metais retorcidos e latidos de velhos cães doentes, mas sim suaves toques do piano intercalados com assovios dos passáros azuis que teimam em pousar em minhas pernas.
Ela levou consigo minha melancolia, e agora tenho que buscar motivos para sofrer. Motivos para reclamar. Motivos para trazer de volta o drama que molhava minhas pernas. Eu preciso sofrer para ser feliz. Preciso complicar para valer a pena. Preciso fazer do normal, um fato memorável, sangrento e doído para todos que assistem. Afinal quem gosta de histórias sem mutilaçoes?
E assim noto que velha Satine, se disfarça em minha sombra, me fazendo entender que sua missao agora é me fazer sofrer pela dor de ser feliz. Essa é mesmo a maior das filhas da puta do mundo, que nunca largará o seu dever. Eu amo essa mulher! ''

[Satine Von Hütz]

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